Problema aflige trabalhadores para além das indústrias. Músicos e profissionais do trânsito também estão na mira da doença
Britadeiras, furadeiras, máquinas industriais
dentro de fábricas, siderúrgicas, baladas, shows e até o trânsito do
dia a dia. Passar alguns minutos sob influência da poluição sonora
destes ambientes gera estresse entre as pessoas, imagine então trabalhar
diariamente sob influência destes agentes? Embora o respeito e a
conscientização de empresas sobre as normas de segurança para
preservação da saúde auditiva de seus profissionais tenham aumentado,
cada vez mais frequentes são os casos de vítimas de PAIR (Perda Auditiva
Induzida por Ruído) relacionadas ao trabalho.
É fato, o mundo está mais barulhento, não à toa a OMS
(Organização Mundial da Saúde) considera a poluição sonora o terceiro
maior problema ambiental que afeta a população mundial. Mas será que os
trabalhadores estão atentos a essa questão? Segundo especialistas,
muitos não dão importância para o uso de EPI’s (Equipamentos de Proteção
Individual) como os protetores auriculares que, embora sejam
obrigatórios no horário de expediente, não é raro vê-los pendurados no
pescoço e não nos ouvidos dos profissionais.
A fonoaudióloga e gerente de relacionamento SUS da
Audibel - empresa de aparelhos auditivos -, Fabiana Ferreira Camillo
Stevanato, explica que todo e qualquer lugar onde haja ruído constante é
necessário o uso de equipamentos de proteção. Além da intensidade do
ruído, o tempo de exposição, no entanto, é quem vai dizer por quanto
tempo o trabalhador pode ficar exposto a esse barulho. “É importante
observar o nível de ruído em cada ambiente para que a audição não seja
prejudicada”, ressalta.
É quase certo que os profissionais de siderúrgicas,
metalúrgicas, gráficas e outras empresas cujo nível de ruído no chão de
fábrica seja alto, já estão mais conscientes sobre a importância de usar
os equipamentos, ainda que haja casos de quem não segue as regras e
abandona o uso dos protetores. Por isso, a preocupação de cada vez mais
otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos também tem sido focada nos
profissionais que atuam nas ruas (onde o barulho vem crescendo
exponencialmente nos últimos anos) e entre os músicos, duas condições
que já entraram na lista de situações de risco.
Nas ruas, é muito comum ver os protetores no pescoço
dos guardas de trânsito durante o trabalho. Segundo a fonoaudióloga,
muitos são os casos de profissionais que arriscam à saúde pelo descuido.
Dependendo do local onde esse profissional atua, o volume de ruído pode
ultrapassar facilmente os 85 decibéis (nível máximo, suportado pelo
ouvido durante 8 horas).
Músicos costumam se queixar muito do zumbido,
sensação de chiado ou apito constante - após muito tempo de exposição a
determinado tipo de ruído. “É muito comum ficar com essa sensação após
shows, apresentações musicais em casas noturnas, porque o volume máximo
suportado pelo ouvido normalmente estava muito abaixo daquele ao qual o
indivíduo estava exposto”, explica Fabiana.
Será que estou perdendo a audição?
A perda auditiva costuma ser gradativa, por isso é
preciso ficar atento. Se você anda tendo dificuldade para entender o que
as pessoas falam, pede com frequência para repetir o que foi dito ou
costuma ouvir televisão com o volume muito alto, pode ser hora de
procurar um médico. “Quanto antes procurar ajuda, mais fácil será para
dar o diagnóstico e contornar o problema”, alerta Fabiana.
O trabalhador ainda pode procurar ajuda dentro da
própria empresa, se sentir que está com algum problema de perda auditiva
relacionada ao ruído. O médico do trabalho, normalmente alocado dentro
das empresas que mantêm bons programas voltados para a saúde do
trabalhador pode diagnosticar casos de perda auditiva por ruído e
recomendar uma visita a um especialista. Caso a empresa não tenha um
profissional alocado, o trabalhador também pode procurar o CEREST
(Centro de Referência em saúde do Trabalhador) de sua região, pois o
Centro estará apto a atender o profissional e inclusive visitar a
empresa para averiguar se há necessidade do uso de equipamentos de
proteção e segurança, além de fazer palestras de orientação para
empresários e funcionários.
O CEREST é um serviço do SUS (Sistema Único de
Saúde), que visa atender as questões relativas à saúde dos
trabalhadores. É o órgão que investiga as condições do ambiente de
trabalho com finalidade de esclarecer aos trabalhadores sobre os riscos
de acidentes e adoecimentos. O CEREST também articula com entidades
sindicais, patronais e órgãos públicos, no sentido de identificar
situações de risco dos trabalhadores, presta assistência especializada
aos trabalhadores acometidos por doenças e ou agravos relacionados ao
trabalho, sejam eles de empresas públicas e privadas; trabalhadores
urbanos e rurais com carteira assinada ou não; autônomos; ou até mesmo
desempregados.
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