Monday, January 16, 2012

Ruído do tráfego de veículos gera danos à saúde e à economia.

Rodovia dos Bandeirantes (SP-348) serviu como área de testes para o estudo realizado pela Escola Politécnica da USP

Testes realizados em pesquisa da Escola Politécnica (Poli) da USP mostram como os diferentes tipos de revestimento das estradas podem melhorar ou piorar os efeitos do ruído causado pelo tráfego.
" Existem várias formas de se reduzir o impacto do ruído: barreiras sonoras, reduzindo a velocidade, ou mexendo no pavimento das estradas - que é o que um engenheiro pode fazer" , explica Sérgio Callai, engenheiro e responsável pela pesquisa de mestrado Estudo do ruído causado pelo tráfego de veículos em rodovias com diferentes tipos de revestimento de pavimentos . Três foram os tipos de revestimentos de pavimentos estudados, em duas pistas diferentes. Na rodovia dos Bandeirantes (SP), havia o microrrevestimento, forma muito corriqueira nas estradas brasileiras; e o asfalto borracha gap graded, que contém o derivado do látex em sua composição. O outro modelo avaliado foi o concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ), presente na pista da Pirelli, em Sumaré (SP).
Mediram-se os ruídos interno e externo em relação a um carro. Para o primeiro, realizado nas três variedades de asfalto, captou-se o som a partir de um microfone colocado próximo ao ouvido do motorista. Já para o ruído externo, foi aplicado o método do nível de ruído equivalente: mede-se um grupo de veículos, durante dez minutos, dividindo-os em leves e pesados. Entretanto, no caso do ruído externo, não foi verificado o comportamento do CBUQ: a pista da Pirelli era próxima demais de uma rodovia, o que dificultou o isolamento dos dados obtidos.
"É difícil estabelecer um valor exato de intensidade de som que machuca o ouvido humano. Depende do tempo de exposição e da natureza da fonte sonora" , explica Callai. Entretanto, na Europa, o limite aceitável para a preservação da saúde é de 55 decibéis (dB). O impacto do ruído na economia pode ser sentido no desconforto no trabalho e na desvalorização imobiliária. Callai toma como exemplo a região próxima ao Minhocão: "É uma área central da cidade, mas você vai morar perto de um barulho daqueles?" . Em sua pesquisa, ele cita um levantamento de 1993, do pesquisador Émille Quinet, que estima que o prejuízo causado pela poluição sonora varie entre 0,2% e 2% do Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação.

Os resultados
Todas as medidas foram feitas no mesmo dia, com temperatura ambiente de 25ºC, temperatura do asfalto de 38ºC, umidade relativa do ar de 55% e velocidade do vento de 1,5 km/h. O carro utilizado foi um modelo Palio 1.8 e sua velocidade era de 100 quilômteros por hora (km/h) em todas as baterias - a não ser na que lidou com variação de velocidade.
Nas medições, foi detectado que, para o ruído externo há uma diferença de 3dB entre o ruído causado no asfalto borracha (80 dB) e o microrrevestimento (83 dB). " Trata-se de uma diferença sutil, mas perceptível" , explica o engenheiro. Para o ruído interno, os resultados foram bem parecidos: a diferença foi de apenas 2 dB entre o asfalto borracha (71 dB) e os outros dois (73 dB).
Outro dado interessante revelado pela pesquisa é a relação da redução do ruído interno com a redução da velocidade do carro. É possível ver, de acordo com o gráfico (acima) que, na redução de 100km/h para 60 km/h, há um ruído 10dB menor. "É uma redução significativa, ainda mais quando você lembra que o som trabalha em uma escala logarítmica."

Estudos no Brasil
O pesquisador acredita que o tema da poluição sonora causada pelo tráfego é um tema pouco estudado no País: " os estudos aqui se focam mais em outras áreas, como durabilidade, custos e poluição do ar" . Ele aponta algumas razões para isso, mas ressalta a importância das pesquisas. " Um problema é que, depois de um tempo, as pessoas se acostumam com o barulho, sem perceber o dano que ele causa. Além disso, o incômodo é subjetivo: o ruído pode atrapalhar conscientemente uma pessoa e outra não. Mas o estrago causado pelo barulho é igual para todos. Acredito que esse será um tema que tem muito a crescer: em breve ela será um tema obrigatório de saúde pública" . Callai foi orientado pela professora Liedi Légi Bariani Bernucci, na área de Engenharia de Transportes da Poli. A defesa aconteceu em 7 de abril de 2011.

Fonte: http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/21540/ciencia-e-tecnologia/ruido-do-trafego-de-veiculos-gera-danos-a-saude-e-a-economia


No comments:

Post a Comment